1. |
Gémeo Mau
04:08
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GÉMEO MAU
Transformado na essência
Dos erros que lá vão
O culpado não tem cara
Muito menos razão
Mora dentro das almas penadas
Que só estão bem
Sem ver ninguém
Quando o ego quer vingança
Contra o que o contém
Sai do buraco
E torna-se animal
Culpa o gémeo mau
Que pisa a alma onde dói
Culpa o gémeo mau
Que é triste e insiste no que destrói
Irritado sem motivo
Ou forma de expressão
Vai julgando quem está vivo
Por serem como são
Quer que os outros se mostrem e deixa
O que quer ser
A apodrecer
E vê mentiras nas verdades
Que não quer entender
Até que explode
Rebenta-lhe na mão
Culpa o gémeo mau
Que não aceita a rejeição
Culpa o gémeo mau
Reflexo anexo à solidão
Bola de neve que aumenta e rebenta
E arrasta o pouco que tens
Quem se esconde
Desculpa e inventa
Ódios e culpas em alguém
E foge ao real
Culpa o gémeo mau
Que pisa a alma onde dói
Culpa o gémeo mau
Que é triste e insiste no que destrói
(c) 2014 Uaninauei
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2. |
Maria Manuela
06:22
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MARIA MANUELA
Fazia ponto de cruz
De agulha torta sentada à porta
Até já não haver luz
E à noite corta
O que vem da horta
Em frente à televisão
Telejornal e novela sem sal
E já nem lhes dá atenção
Mete o dedal e tece a espiral
Do tempo de outra qualquer vida
Na manta rota de uma história comprida
Põe o feijão a cozer à panela
Maria Manuela
Não acendas a vela
Não te embrulhes nesse xaile preto
Nem chores mais atrás do coreto
Põe antes uma flor à lapela
E vem espreitar à janela
Maria Manuela
Entretinha-se a decorar
A mobília com memorabília
Do que acabou por sobrar
Da quezília na própria família
Nunca tinha visto o oceano
Senão da torneira da sua banheira
E num búzio ouvia as ondas bater
Na areia de um mocho à lareira
E um dia hás-de encontrar marido
Na história de alguém que andou perdido
(c) 2014 Uaninauei
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3. |
Assaltos Legais
03:33
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ASSALTOS LEGAIS
Se o rei da manada
Quiser tudo ou nada
Ao preço amargo de um presente envenenado
Fico a dever, despreocupado
Mas eu não pago
Nem tenho maneira de pagar
Se o luxo é pouco
Não sobra nada para te dar
E comes tudo por demais
Em assaltos legais
E comes até não dar mais
Em assaltos legais
Se um caloteiro te promete a lua cheia
Quando ela sobe, só está meia
Passaram-te um cheque
De ouro em pechisbeque
E agora o mês já não aguenta tantos dias
O bolo já vem às fatias
Mas eu não pago
Nem tenho maneira de pagar
Se o luxo é muito
Não sobra nada para te dar
E comes tudo por demais
Em assaltos legais
E comes até não dar mais
Em assaltos legais
Mas eu não pago
Nem tenho maneira de pagar
Se o luxo acaba
Não sobra nada
Nada para te dar
(c) 2014 Uaninauei
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4. |
Aldeia Sem Taberna
08:00
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ALDEIA SEM TABERNA
Coração mole não parte
Espera um golpe que o mate
E vou ao sabor do vento
O meu idioma é o lamento
E pior que estar sozinho
É estar seco e não ter vinho
Cansado
Sem saber para onde ir
Parei aqui um pouco
Mas deixei-me dormir
Tentado
A beber tudo o que houver
Contento-me com pouco
Mas um pouco tem de haver
Que o meu corpo é um vulcão
De revolta em erupção
Subia
Pela rua onde vi
A última taberna
Fechar quando eu nasci
Fugia
Seco e sóbrio do altar
Do amor abençoado
Que se esqueceu de amar
Nuvens chovem com vontade
No meu corpo a febre arde
E então nem eu sei onde estou
Brindarei com a morte se eu quiser
Com o vinho mais azedo
Que escorra na adega
É melhor que morrer seco
Nesta solidão eterna
Numa aldeia sem taberna
E enquanto vejo o centro
Da porcaria em mim
Não consigo pôr-me dentro
Desta vida sem sentir que vou partir
Já nem quero saber onde vou
Porque agora canto por prazer
A música mais triste
Que já houve e existe
E ninguém a quer ouvir
O amor passou-me a perna
Numa aldeia sem taberna
Ninguém a vai ouvir
Ninguém a vai ouvir
A saudade é eterna
Numa aldeia sem taberna
Cai na dor, fiquei refém
A vinha seca e eu também
Com a garganta a secar
Fiz a cama e dormi
Acordei longe de ti
Bebi tanto que acordei em paz
Vou morrer seco.
(c) 2014 Uaninauei
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5. |
Limites Do Juízo
04:48
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LIMITES DO JUÍZO
Ligado ao programa
Qual velho surdo e senil
Sabes bem
Que há um fosso entre a vida e a cama
Dizes mal
E és igual
Foste injectando emoções televisivas
Rindo do choro das gordas contra as divas
Quando a consciência só dá publicidade
O mal alheio distorce a dignidade
O drama é falso ou chega amplificado
Calçam-te luvas num dedo amputado
Esquece o que te dizem
E acabas sozinho
Prostituto do carinho
Ultrapassaste os limites do juízo
Trocaste a vida por entretenimento
Meteste a fome na roda dos alimentos
Nasce outro dia e nem tiras o pijama
A realidade é intervalo no programa
Comédia triste de sorriso amarelo
Cortam-te as pernas e oferecem-te um chinelo
Massajam-te o ego com paisagens tropicais
E a vida dos ricos tão bonita na novela
A tua gamela tem legumes virtuais
E o alcance do comando é a tua trela
Ultrapassaste os limites do juízo
(c) 2014 Uaninauei
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6. |
Nascer Crescer Morrer
06:00
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NASCER CRESCER MORRER
Quem tem a lua quer o sol
É indiferente ao luar
E pensa em chuva por dentro
Dorme lá fora ao relento
Quem tem a chuva pede o mar
É indiferente ao seu sal
Procura apenas nadar à deriva
Gastar um mar de saliva
A não dizer o que foi
A não dizer o que quer
O vento passa
É-lhe indiferente o luar
O sol, o mar
O sal, a chuva
Quem se arrepende quer voltar
E fazer tudo outra vez
Mas de uma forma diferente
Mas, e se de repente
O barco não se afundar
Ao fundo aguarda uma terra perdida
Onde se vai encontrar
Novo rumo para a vida
A vida dói ao nascer
Quem fica pensa em partir
Mas não consegue com o medo
E cava a própria cova
Lugar à gente nova
Quem foge pensa em ficar
Lugar nenhum os aconchega
Antiga ferida que cura
Já nova queda se augura
Não vai dizer porque foi
Não vai dizer o que quer
Vem o consolo
Pela porta da dor
E chora e ri
E cresce e morre
A vida dói ao crescer
Quem ladra pensa em miar
Não se arrepende de nada
Se não tiver que chorar
Que chore outro em seu lugar
Quem anda pensa em voar
E mata o pássaro
E quando o voo falha
Quando a morte se espalha
Não vou dizer porque foi
Não falhei eu mas as asas
O velho abre o buraco
Onde hei-de cavar
O túnel de outra vida ou não
Ou não
A vida dói ao morrer
(c) 2014 Uaninauei
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7. |
Adamastor
03:00
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ADAMASTOR
O epitáfio vem com a chuva
De água venenosa e turva
Descemos na cauda do rio
Que sobe do abismo ao vazio
Pela uretra do planeta
E tal como já se dizia
Na mais antiga profecia
O planeta fica cinzento
E a lava arrasta o cimento
E do espaço cai um cometa
Pendura-se o mar
Às costas da terra
E o mundo a afundar
Mesmo indo ao fundo
O mundo tenta esticar-se em bicos dos pés
Entre o mastro e o convés
Mesmo indo ao fundo
O mundo tenta arrastar-se em bicos dos pés
Adamastor sem marés
A crosta da terra suada
Enquanto animais em manada
Se afogam sem dor, complacentes
Os humanos guardam pertences
Com que se afundam neste rio
No fim sobra a violência
Desculpa-se o mal com a ciência
O profeta morre enforcado
O resto do mundo é julgado
Reduz toda a fome ao seu cio
Diamante em bruto
Eva a morrer
Adão eunuco
A enlouquecer
(c) 2014 Uaninauei
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8. |
Virgem Do Descanso
05:46
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VIRGEM DO DESCANSO
Vou cavando o que plantar
Numa lenta eutanásia
O pouco que vou ganhar
Vai do bolso para a farmácia
Se este mundo é uma enxada
Que fazer senão cavar?
No meu tempo as plantações
Seguiam as estações do ano
Agora chove nos Verões
E o Inverno é profano
Quando só se tem uma enxada
Que fazer senão cavar?
Sou virgem do descanso
O tempo livre é um mito
O mundo deu-me um avanço
E eu fiquei no mesmo sítio
Não o consigo alcançar
Uns vão de avião
Eu vou de bicicleta
Também chego onde quero chegar
Um diz que é actor
O outro que é poeta
Eu cá só sei trabalhar
Dizem que sou limitado
Mas nunca tive horizonte a alargar
Sou virgem do descanso
O tempo livre é um mito
O mundo deu-me um avanço
E eu fiquei no mesmo sítio
Não o consigo alcançar
A luz já se fundiu
Brilhei mas não se viu
Brilhei mas não se viu
Que a luz já se fundiu
Quem trabalha só se encosta
Quando a lua está à mostra
Até o sol acordar
Quem trabalha não reclama
Pousa o corpo na cama
E acorda para trabalhar
(c) 2014 Uaninauei
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9. |
Cabeça De Motör
02:41
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CABEÇA DE MOTÖR
Tenho ouvido e visto muita coisa
Muita coisa ficou pela metade
Tenho ouvido e visto muita treta
Muita treta a passar por verdade
Na minha cabeça de motor
Mistura-se o sexo com humor
Na minha cabeça de motor
Tenho sido usado e maltratado
Maltratado por quem me quer bem
Dizem que estou mal habituado
Mal habituado a quê e quem?
Na minha cabeça de motor
Desliga-se o sexo do pudor
Na minha cabeça de motor
Na minha cabeça de motor
Na minha cabeça de motor
Mistura-se o sexo com amor
Na minha cabeça de motor
Na minha cabeça de motor
(c) 2014 Uaninauei
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Uaninauei Portugal
Banda rock formada no final de 2008 em Évora. Com dois álbuns e um EP editados, os Uaninauei estão de volta em 2020 após quatro anos de inactividade.
Agenciamento:
Rita Piteira
riapiteira@gmail.com
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