1. |
Neve Carbónica
05:05
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NEVE CARBÓNICA
Ver ginastas a cair
Prostitutas a sorrir
Entra na roda um pedinte orgulhoso
O filho pródigo da arma do crime
Um gato preto que se esconde num prédio
Vai algemado o assassino sem vítima
São paredes sem cor em casas de vapor
Diz que é tudo normal
Abre no espaço um portão
onde se toca no chão
Precipício infinito
Quem cai não chega ao fim
São asas de granito
Crescem atrás de mim
Num mundo sem fronteiras
É proibida a lei
E quebram-se as barreiras
Entre o povo e o rei
E vês Babel a ruir
E o planeta a implodir
São muros sem betão
São consciências em expansão
do céu profundo ao caixão
Vê-se planar um balão de oxigénio
E há promoção de prostitutas na rua
Vês aumentar a biblioteca da ignorância
E a cada passo pisas outro buraco
São telhados de vidro que partem sem ruído
Parte-se em mil o céu
Chovem estilhaços em ti
São mil muros de Berlim
É mental essa violação das hormonas em construção
Corpos de pedra que pairam no ar
Ouvem-se ao longe os céus de vidro a quebrar
Neve Carbónica, neve carbónica
Terra fumegante e sulfurosa
Criança agonizando sob a cinza de relógios velhos
Placas de antimónio violadas
Pelo mistério dos sábios
Pelos cosmonautas
Pelos ultra-sons
E o autómato caminha lentamente
vertendo mercúrio pelas veias de aço
Sonhos impossíveis
Números impossíveis
Raios laser
Neve carbónica
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2. |
Cantiga de um Ladrão
03:54
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CANTIGA DE UM LADRÃO
Estou de passagem para a outra margem
Tenho um Jesus numa cruz à minha imagem
E o nervosismo dá em cinismo
Ou em filosofia de autoclismo
Perdi o sentido de humor
Na sedentária vida ordinária
Ou é do frio ou do calor
Ou da precária conta bancária
Medo
Não tenho medo
Bem-me-quer
Malmequer
Cantiga de um ladrão
Anda cá
Volta atrás
Não vou dizer que não
Pensas que isto é tudo invenção?
Gente que mal desperta veste a cueca da imitação
Gente que se apavora se chega a hora e não há canção
Comes o fruto do ouro bruto
Pensas que chove e que tu ficas enxuto
Burro ou astuto
Levas o tempo a dormir em pé
Gente que sabe tudo e rouba ao mundo opiniões
Gente que se faz grande e leva no sangue mil frustrações
Sentas-te à mesa da tua presa
Não tens dinheiro mas comes sobremesa
Tens a certeza
Que o mundo é filho de um pai sem fé
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3. |
Chamas Em Mim
03:23
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CHAMAS EM MIM
Ardes por dentro e por fora
Vês as paredes fechar
Sentes que já não demora
E que não vais aguentar
As paredes fecham-te num quarto escuro onde queimas o ar
Na respiração ofegante de quem não quer respirar
Mas se o fogo é meu
Quem o acendeu fui eu
Tenho chamas em mim
Tenho chamas em mim
Tirem-me daqui
Escreves o momento nas paredes ocas de uma casa qualquer
Como se o desejo fosse combustível de uma chama a arder
E o desejo é um ventre suado numa dança final
Não aguentas o tempo morno desse corpo banal
Mas se o fogo é teu
Não fui eu quem o acendeu
Passo em falso
Vais descalço
Passo em frente
Vais dormente
Passo em falso, vais descalço
Num processo indolor
Sente o corpo quente, fogo ardente
Chama sem cor
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4. |
Balada do Cavalo
08:02
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BALADA DO CAVALO
Sentado atrás de um bar, picado até voar
E nada vais fazer até amanhecer
E o riso sem razão vai-te colando ao chão
E suas sem calor num plano tricolor
E não te deixam em paz aonde quer que vás
Já respiras demais
Estica o braço até ao céu
são mais juízes que réus
compra um tempo sem razão
à porta de um barracão
Já respiras melhor?
Quando o corpo se queixar
Roubas tempo a quem passar
E esse braço levantado
todo envenenado
Já respiras demais
Já respiras melhor?
Não me deixam dormir
Não me deixam dormir
A noite está para vir
E não me deixam dormir
E este muro vai cair
Vês o barco a passar
Vês a multidão voar atrás de ti assim
Isto não tem volta a dar
Eu perdi o meu amor
A seguir fui lá buscá-lo
Dediquei-lhe uma modinha
A balada do cavalo
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5. |
Betoneira (Vida do Mal)
04:11
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BETONEIRA (VIDA DO MAL)
Não, não preciso que rezem por mim
Que me imponham a fé na razão
Nem preciso que me queiram aqui
Deixem-me da mão
Diz a freira com o seu olho vesgo
Que o destino é vago, mal o vejo
Dizem-me que o altar já ardeu
E que o padre morreu
E que o padre morreu
Não, não insisto que vão por mim
Se nem eu sei para onde vou
Não resisto à ironia do fim
Se acabar, acabou
Diz o padre com o seu fato branco
Que o destino é vesgo, surdo e manco
Ninguém o ajuda a ser normal
Nesta vida do mal
Nesta vida do mal
E o pão diminui
E o padre engorda
E o fiel que reza
Vai deixando a esmola
E o santo cai
Desfaz-se em ouro
Cada reza é um potencial tesouro
E o milagre é teu
Caído do céu
Condenado a não levar
Esta vida do mal
Querias mais
Querias mais do que não tens
Pão, água e reféns
Querias ter
Querias ter mas nunca tens
Mais que três vinténs
Querias mais
Querias mais do que não tens
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6. |
Circos a Arder
04:37
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CIRCOS A ARDER
Anda
É por aqui que os circos ardem
Anda
É por aqui que a gente foge
São gnomos e anões
Que surgem de entre o fumo
Cavalos e leões
Que lutam sem futuro
São circos a arder
São jaulas que se abrem
São cobras a morder
Os homens que aplaudem
Pensamento animal
Como artista principal
Quem não tenta fugir fica em cinza no chão
Morto em chamas sem caixão
Está tudo a arder
São trapezistas cegos
Que fogem sem destino
E os exorcistas mancos
Que abraçam o demónio
E quem pegou fogo à tenda
Foi o freak malabarista
Que brinca com o fogo
Com a mania que é artista
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7. |
Guilhotina
04:53
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GUILHOTINA
O eco vai pairar no vazio que entoas
No infinito ar em que agora voas
Não tem fim o esquecimento
Que o futuro é movimento
Deixa o tempo naufragar
Deixa pairar o silêncio
O carrasco és tu que escreves a tua sina
E um dia vais voltar a ser a guilhotina
Não tem fim o movimento
Que o futuro é esquecimento
Deixa o tempo naufragar
Fica preso no silêncio
Já não sei o que estou a fazer mais aqui
Nem sei bem se o que sou é parte ambígua de mim
Volta atrás sem mim
Que eu sigo por aqui
Não fiques resignado a ser assim
Se o tempo se parar ao pé de ti
No amanhecer de um dia sem agenda
Tentar falar sem que alguém te entenda
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8. |
O Rei
09:47
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O REI
Se não queres estar de pé
Então fica sentado
Se não aguentas a pressão
Então põe-te de lado
Se não tens nada a dizer
Então fica calado
Que não estamos para ouvir
Cantar o mesmo fado
Não te desejo mais nem menos
do que quero para mim
Se viajar no tempo
Não é a solução mais fácil
para quem quer estar aqui
No mesmo lamento
O teu queixume igual
Que isto está tudo mal
Haja saúde diz ao neto o velho
Não sejas coitadinho
bebe um copo de vinho
que te faz bem deixar de olhar ao espelho
Se não queres ser feliz
Então fica amuado
Se não queres estar aqui
Então vai para outro lado
Já estamos fartos de ouvir
Cantar o mesmo fado
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Uaninauei Portugal
Banda rock formada no final de 2008 em Évora. Com dois álbuns e um EP editados, os Uaninauei estão de volta em 2020 após quatro anos de inactividade.
Agenciamento:
Rita Piteira
riapiteira@gmail.com
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